quinta-feira

"Ais" do Volante...



Mira tinha acabado de receber a participação de lucros da empresa onde trabalhava e não sabia o que fazer com o dinheiro. Resolveu comprar um automóvel. Porém, não tinha carteira de habilitação. Por isso, começou a frequentar a auto-escola do bairro. Tentou várias vezes e, finalmente, no quinto teste foi aprovada e conseguiu a sua carta de motorista.

Três semanas depois, foi buscar o carro que havia comprado. Estava na TPM, mas a alegria de ter em mãos o novo brinquedo, aparentemente, lhe inspirava calma. Conduziu muito bem o veículo e chegou feliz ao prédio onde morava. Aqui, é preciso uma pausa para descrever as possibilidades de aventuras nas quais Mira estava prestes a mergulhar.

A tal garagem era peculiar: entrada estreitíssima, logo após o grande portão, havia uma descida vertiginosa, - parecia pista de skate. Ao entrar, era necessário muita atenção, porque assim que terminava a rampa, havia uma curva que exigia cuidado no acesso a cada uma das vagas. Alguns moradores do prédio guardavam suas motos e bicicletas junto às colunas desses nichos.

Mira atrapalhou-se toda... Na estréia catastrófica, pegou de jeito a bicicleta da mulher do 701. Foi literalmente um choque! Ela não havia pensado que alguma coisa assim pudesse acontecer, e logo no primeiro dia! Fazer o quê? Foi lá, pediu desculpas à vizinha e colocou a bicicleta, - completamente destruída -, no conserto. Em seguida, foi ao apartamento do síndico para responsabilizar-se pelas obras que deveriam ser feitas para reparar o estrago na garagem.

Estava tão traumatizada com o ocorrido que desfez-se do carro. A opção agora seria a carona do namorado, da irmã, Roberta, dos amigos, ou um taxi.

Mês e meio depois do acidente, Mira devolveu à mulher do 701 a bicicleta novinha: linda, tinindo, mais bonita do que antes.

O tempo passou. Mira frequentou um psicólogo, distraiu-se com outras coisas e, um belo dia, decidiu fazer mais algumas aulas na auto-escola pois, segundo ela, "já estava na hora de voltar a dirigir, ganhar mais independência."

Certa tarde, ignorando os apelos de Roberta, que ainda não a julgava pronta para enfrentar o volante, tomou-lhe a chave do carro e desceu para a garagem.

Olhou satisfeita o possante da irmã, que partilharia com ela esta hora que finalmente chegara. Conseguiu tirar direitinho o carro da vaga. Passeou com ele na avenida à beira-mar, visitou amigos, fez compras, - e saiu-se muito bem na garagem do shopping. À noitinha, voltou para casa tão feliz... Na entrada do prédio, acionou o controle remoto para abrir o portão e descer a rampa em direção à sua vaga. Mas, sim,... havia alguma coisa "no meio do caminho" e... CRASH!!!

Lá se foi a Mira, - mancando de uma perna, testa machucada, braço quebrado -, levar a bicicleta da mulher do 701 para consertar. Foi e voltou de taxi, é claro!

O que restava do carro de Roberta foi anunciado na seção "ferro velho" dos classificados de um jornal local. Depois de consertar duas vezes a mesma bicicleta, pagar duas vezes a obra na garagem, e ajudar a irmã a comprar outro carro, a família e os amigos tranquilizaram-se, pois certamente Mira, tão cedo, não retornaria às emoções ao volante.

Na semana seguinte, ela apareceu no prédio com uma moto. Setecentos e cinquenta cilindradas...

ju rigoni


Visite também Fundo de Mim, Fundo de Mim II e Dormentes.

Um comentário:

Eloah Borda disse...

Oi, Ju, adorei "Ais" do Volante! Hoje minha conexão está, digamos, comportada, e estou podendo visitar alguns blogs. Uma boa noite e um bom domingo.
Beijão.
Eloah